Ogro Caolho

~Dez.2010
~Retorno ao torno

As noites se mostravam cada vez mais difíceis de serem vencidas, não sei se era o medo de algo inesperadamente ruim acontecer, ou o simples fato de eu estar sozinha e longe de casa. Já fazia algum tempo que eu não visitava meus pais e a bela cidade de Ouro Preto, mas não queria arriscar, afinal quem sabe alguém precisaria de mim por aqui?
Apesar das noites serem uma tormenta os dias não compensava em nada, afinal à luz do dia conseguimos vez o caos, a destruição dos lugares. Normalmente durante o dia eu fazia minhas atividades rotineiras, mas sentia que o ar estava pesado, estava difícil de respirar. Voltava para meu aposento então no fim do dia, sentindo como se tivesse sido mastigada e depois cuspida por um dragão.

Mas hoje eu senti vontade de fazer alguma coisa diferente, não sei me animar um pouco, quem sabe até beber alguma coisa forte. Já estava bem escuro quando tomei meu caminho em direção ao bar Sossego do Ogro Caolho. Eu já tinha em mente o que iria pedir, e isso fez com que um sorriso, ainda que discreto aparecesse em meus lábios.

Chagando à porta do estabelecimento, comecei a ouvir o barulho reconfortante de pessoas rindo e conversando alto. Parecia que eu podia sentir a velha e tresloucada Martha aparecer pelo menos por enquanto. Fui ao balcão e pedi a bebida mais forte que tinham, tomei um dose, e olhei para o lugar encostada no balcão, de lá vi dois colegas, e bem, não pude deixar de cumprimentá-los.

Cheguei perto da mesa onde estavam sentados, Victor e Isadora, e disse com uma mesura:

_Saudações meus queridos!

Com um sorriso, perguntei se podia me sentar com eles:

_Posso sentar? Mas se eu estiver atrapalhando digam, por favor.

Depois de cumprimentar meus amigos, Isa em um gesto um tanto quanto inesperado me deu abraço forte. E Apesar de eu ter me assustado um pouco, foi bom.

_Ah, Martha!!! Minha querida!!... Não é incomodo nenhum... muito pelo contrário é tão bom ver você aqui... Aceita alguma coisa, querida?

Digamos que eu realmente me comovi ao ser recebida tão calorosamente. Victor em um gesto educado levantou-se e acenou com a cabeça, e eu repeti o gesto e sorri largamente para ele.

_Martha!! Que bom vê-la por aqui!! Como estamos?

_Isa! Que bom te ver, e ainda melhor te ver recuperada! E Victor, bom te ver também. Estou relativamente bem, melhor agora para falar a verdade.

Não aceitei nada de comer, não estava com fome na verdade, apenas queria um pouco de companhia. E agora eu tinha. Isa começou então a me colocar a par da discussão:

_Martha, Victor e eu estávamos falando da festa de fim de ano... Eu não acho que o Educandário está pronto para receber uma festa agora... com todos aqueles escombros, toda aquela ruína... O que eu penso no momento é que poderíamos fazer em algum lugar por aqui em Santo Sossego, pelo menos para não passar em branco ... O que você acha?... ou seria melhor deixar a festa de lado mesmo e focarmos no próximo ano e na reconstrução do educandário.

Pensei um pouco sobre aquilo, realmente não seria bom fazer a festa no EMMP o ambiente estava muito triste para isso. Era Horrível ver um lugar que era majestoso estar em ruínas.

_ótima a idéia de continuar a tradição e fazer a festa. Mas concordo com a Isa, o ambiente do educandário não está bom para comemorações. Mas acredito que aqui fora tem lugar ótimo para fazer a festa. Neste momento de tristeza nada melhor do que uma distração para melhor o ânimo de todos.

Dei um sorriso, e olhei os dói dizendo:

_Mas como estão vocês?? Com toda essa coisa, não pude encontrar ninguém...e estou realmente sentindo falta.