biblioteca

Era uma noite chuvosa e abafada de Dezembro daquele triste ano de 2025. O barulho da água caindo na floresta próxima ecoava nos escombros do que um dia havia sido uma grande biblioteca de conhecimentos mágicos.

- Shiuu, Romano!!! ... Não faça barulho ... Eu ainda não sei se continua proibido isso aqui...

Seu velho amigo ralhou com ele por ter chamado sua atenção, mas mantevesse em silêncio e cuidadoso com seus passos.

Para onde os olhos se voltavam, encontravam apenas restos de livros e cinzas... Olavo sentiu uma ponta de tristeza ao se recordar dos momentos que viveu ali dentro.

- Aqueles fantasmas idiotas não devem ter destruído tudo... Algum livro aqui deve prestar para algo... Alguma coisa que sirva para descobrirmos o paradeiro do Iramohn... Vasculhe aquele canto que eu vou olhar essa pilha aqui.

Começou a revirar os escombros na tentativa de achar algo que lhes fossem útil. Seu amigo fez o mesmo...

A ausência de Iramohn no Educandário não trazia apenas uma sensação de insegurança para os professores e aurores que agora perpetuavam sua estada no educandário. Os poucos alunos que ali insistiam em permanecer naquele fim de ano também sofriam com a aflição de um ataque a qualquer minuto.

O mais próximo que Romano poderia chamar de família estava a mais de mil quilômetros de distância dali, em uma pequena tribo indígena perdida na Amazônia, e mesmo assim nunca se sentiu como um membro completo daquela civilização perdida nos tempos do isolamento físico e social... Sua verdadeira casa era ali, naquele local que o abrigou durante dois anos... no meio dos amigos e professores do Educandário.

- Shiuu, Romano!!! ... Não faça barulho ... Eu ainda não sei se continua proibido isso aqui...

Sem querer, imerso em seus pensamentos, Romano tropeçou em uma pilha carbonizada de livros. Estavam dentro da biblioteca, ou o que um dia foi a biblioteca da escola...

Em uma tarde de ócio, conversavam durante o café da tarde sobre Iramohn... Lembraram que em algum momento perdido no passado ouviram sua ex-companheira de aventuras, Viviane da PB, dizer que teve uma aula que apresentava as duas criaturas mágicas do Educandário, suas naturezas e funções.... Por fim, havia combinado com Olavo que se aventurariam pelas ruínas da área proibida para tentarem encontrar informações sobre Iramohn e, desta forma, uma maneira de localizarem seu paradeiro.

- Aqueles fantasmas idiotas não devem ter destruído tudo... Algum livro aqui deve prestar para algo... Alguma coisa que sirva para descobrirmos o paradeiro do Iramohn... Vasculhe aquele canto que eu vou olhar essa pilha aqui.

Romano concordou e começou sua busca... Quase meia hora examinando capas incineradas e obras perdidas, achou algo que chamou sua atenção: "Educandário Monte Pascoal - Volume III: Criaturas Mágicas e suas Tradições. por Mino Taurus "

- Olavo!!!... Olavo!!!... Achei alguma coisa.. olhe aqui...

E sob suas vistas curiosas, o livro começou a ser folheado.

A noite caiu trazendo uma chuva morna e pesada. De seus aposentos, o velho professor Ferraz olhava através da janela contemplando aparentemente o nada ao mesmo tempo que seus sentidos vasculhavam os terrenos da escola em busca de qualquer anormalidade que pudesse ser interpretado como ameaça.

Não demorou para que seus ouvidos detectassem passos...

"Passos leves e cautelosos... Dois...Dois não... três"

Fechou os olhos para aguçar ainda mais sua já refinada audição...

"...Três sorrateiros... Aqui dentro do castelo... Cheiro de cinzas molhadas... Estão revirando os escombros... Não no salão... humm... Biblioteca... Estão na biblioteca..!!!

E Joaquim empunhou a varinha com uma pequena fonte de luz em sua ponta e desceu veloz até a biblioteca. Por sorte, os invasores logo foram identificados como alunos e Joaquim retraíu seu instinto assassino e conteve-se na cautela da aproximação dos desavisados alunos.

Lá estavam Romano e Olavo ajoelhados sobre um livro semi destruído, folheando as páginas que ainda lhe restavam em uma ânsia a procura de algo revelador e seus interesses no achado era tamanho que mal perceberam quando outra companheira se aproximou e os alertou:

- Hey, psiu, vocês perderam a cabeça?? Aqui é proibido e perigoso, vocês fazem idéia das conseqüências?

O professor parou ao lado deles os cumprimentando de modo não muito amistoso:

- Boa noite senhores!!!.. Senhorita Lunna tem toda a razão quando diz que aqui é uma área proibida... É melhor não pouparem palavras se não quiserem um castigo pior do que já terão...

Romano e Olavo haviam ido a área proibida da biblioteca em busca de alguma informação que os ajudasse a encontrar o velho Iramohn, raptado pelos Fantasmas.

Em alguns minutos entre os escombros, acharam um livro que poderia dar as pistas que eles necessitavam: "Educandário Monte Pascoal - Volume III: Criaturas Mágicas e suas Tradições. por Mino Taurus "

Folheando suas páginas, perceberam que o volume era parte de uma enciclopédia que continha algumas informações sigilosas sobre o Educandário. Aquela, em específico, citava as colônias de criaturas racionais que haviam se instalado na Mata ao redor da escola e seus códigos de condutas para uma aproximação amigável, mas a informação que eles queriam ainda não haviam encontrado até que...

- Hey, psiu, vocês perderam a cabeça?? Aqui é proibido e perigoso, vocês fazem idéia das conseqüências?

Romano deu um pulo para trás e de cócoras acabou caindo sentado no chão... antes mesmo que pudesse reagir a algum comentário, uma figura mais ameaçadora surgiu silenciosa das sombras, arrancando o fôlego de seus pulmões.

- Boa noite senhores!!!.. Senhorita Lunna tem toda a razão quando diz que aqui é uma área proibida... É melhor não pouparem palavras se não quiserem um castigo pior do que já terão...

Ao mesmo tempo que sua mente tentava desenvolver um raciocínio, as palavras pareciam entaladas em sua garganta e fugiam de sua boca... Gaguejou e para ganhar tempo se pôs de pé sacudindo a poeira que havia lhe impregnado durante o tombo... Olhou para Olavo e depois para o livro no chão, na esperança que ele entendesse que o professor não deveria atentar para aquela leitura...

- P-P-P-Professor... Não estamos aqui atrás de nada... É É É É que estava tão abafado que eu e Olavo acabamos saindo para respirar ar fresco e sem nos perceber, paramos aqui... Nós só percebemos que era a área proibida quando Sam nos alertou!!!

Engoliu em seco na esperança que tudo estivesse convincente, mas obviamente sabia que não estava...

Foi uma cena quase cômica ver os alunos atrapalhados, tentando achar uma explicação verossímil para suas presenças naquele recinto, mas Joaquim manteve seu semblante sério e firme enquanto Senhorita Luna discernia alguma baboseira sobre um coelho perdido.

Enquanto fingia prestar atenção e dar credibilidade aquele sorriso inocente e manipulante, observava pelo canto dos olhos os movimentos quase estáticos de Olavo Rafaelli tentando esconder os resquícios de algum livro...

- Bom, meninos acho que Aroldo não está por aqui... - finalizou a aluna em sua argumentação.

- Certamente não está, senhorita Luna...- disse enfático o professor na tentativa de alertar a menina de sua habilidade extrassensorial e voltou-se para o Senhor Rafaelli, que ainda lutava com os próprios pés para ocultar o livro das vistas do professor.

- Olavo, Por favor!!! Deixe o livro em paz.

Joaquim observou a pele do rapaz tornar-se marmórea, enquanto seu pelos enrijeciam por efeito do susto de ter sido pego em pleno ato furtivo.

- Ainda me surpreende terem deixados alunos aqui neste fim de ano!!! ... Muito bem, voltem para seus dormitórios, sem escalas... Lembrem-se que estarei logo atrás de vocês... No primeiro dia de aula quero os três em minha sala às 19horas.. e espero que não se esqueçam!!!

Os três alunos sairam cabisbaixos da biblioteca enquanto Professor Ferraz analisava o conteúdo do livro que tanto interesse despertou neles.